Excerto do artigo sobre acampamento europeu. Publicado no jornal i de dia 3 de agosto 2013
Occupy Vieira do Minho. Jovens
feministas de armas e bagagens em Portugal
Artigo de Catarina Falcão
Terceiro acampamento das
jovens feministas europeias decorre em Portugal de 4 a 12 de Agosto. Menino não
entra
A partir de amanhã mais de 60 jovens feministas europeias
vão instalar-se em Vieira do Minho para uma semana de debates, workshops e
iniciativas públicas promovidas pela movimento feminista internacional Marcha
Mundial das Mulheres (MMM). A intervenção da troika em Portugal, as
dificuldades inerentes ao resgate financeiro e o agravamento das desigualdades
de género vividas pelas portuguesas serviram de mote para trazer a terceira
edição do Acampamento de Jovens Feministas ao Minho, depois de Toulose, em
França (2011), e Targoviste, na Roménia (2012), terem sido os locais escolhidos
para os dois primeiros acampamentos.
"A escolha de Portugal deveu-se a dois factores:
sermos um país intervencionado pela troika, cujas políticas de austeridade têm
tido impactos gravíssimos sobre as vidas da maioria das pessoas, nomeadamente
das mulheres, e por entendermos ser essencial partilhar preocupações,
reflexões, experiências e estratégias entre jovens feministas a nível europeu
para combater o aprofundamento das desigualdades e afirmar as nossas
resistências e alternativas", sublinhou fonte da organização ao i.
Até agora há 60 jovens inscritas na iniciativa provenientes de Portugal,
Espanha, França, Suíça, Itália, Alemanha, Estónia, Finlândia, Áustria, Roménia
e Reino Unido - a iniciativa só é aberta a mulheres porque se pretende
"afirmar as capacidades das mulheres para a acção e autonomia", e não
há limite de idades.
Também a região do país onde vai decorrer o evento não
foi escolhida ao acaso, já que este ano a organização do acampamento está a
cargo da MMM de Portugal e da Galiza, ficando o Minho equidistante para ambas
as organizadoras. "A localização, em Vieira do Minho, permite a
concretização desta parceria. Por outro lado, a quinta que nos acolherá
situa-se num lindo vale rodeado por montanhas verdejantes muito perto da serra
do Gerês e tem todas as condições necessárias para a realização de uma
iniciativa desta natureza", justificou o MMM Portugal.
Autogestão Desde
o início desta iniciativa que as jovens feministas estabeleceram que os
acampamentos se iriam realizar sempre em autogestão. Não só
dormem em tendas, procurando alojar-se em quintas ou na proximidade de
florestas e rios, como tentam consumir apenas produtos locais e cultivados de
forma ecológica. O dia-a- -dia do campo é gerido por todas em conjunto e todas
as participantes têm de levar a cabo tarefas como cozinhar ou limpar.
A autogestão não se aplica só à logística do acampamento,
também o programa das actividades só é definido quando todas as participantes
já se encontram juntas. Numa assembleia-geral decidem e votam os temas a
abordar durante aquela semana, sendo por isso impossível saber com antecedência
o que vai fazer parte do convívio em Vieira do Minho. A tradição deste evento
indica que uma marcha com animação, dança e música pelas ruas de Braga não
estará fora de questão, assim como debates públicos com os moradores da zona
sobre tolerância e, claro, o papel da mulher na sociedade.
Yes We
Camp A
grande diferença em relação aos últimos dois acampamentos é que este ano a
organização não conseguiu qualquer ajuda comunitária para o projecto - apesar
de o acampamento que decorreu em Toulouse, em 2011, ter sido nomeado para
prémios de acção juvenil na Europa. "Decidimos, mesmo assim, avançar com a
organização, com os recursos e boas vontades que conseguíssemos mobilizar. Daí
o lema 'Yes, we camp!' Mais que uma actividade de projecto, esta iniciativa
pretende de facto promover a cidadania crítica e uma consciência feminista,
capaz de enfrentar os tempos e as políticas adversas que hoje
enfrentamos."
Além do debate sobre as desigualdades e o "risco de
cristalização de valores conservadores, que relegam as mulheres para a esfera
privada e as tarefas de reprodução, ao mesmo tempo que parece acentuar-se a
tendência para a mercantilização dos nossos corpos", as jovens feministas
querem mudar a perspectiva com que as mulheres encaram o futuro.
"[Combatemos as dificuldades] recusando liminarmente o que nos apresentam
como inevitabilidades, participando no espaço público - seja em grupos de
mulheres, seja noutros grupos, associações, movimentos ou mesmo partidos -,
construindo solidariedades e afirmando alternativas", sublinhou a MMM.
[Em breve colocaremos a noticia completa publicada na edição impressa do jornal i]